Torcida Única: quando a origem do problema está além das quatro linhas

A violência é um problema que vai muito além das quatro linha.

Há um ano atrás, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo decretou a torcida única em todos os clássicos entre os quatro times grandes paulistas. A decisão foi tomada após uma série de confrontos entre torcidas organizadas de Corinthians e Palmeiras, que resultou na morte de um idoso e em vários outros feridos.



Na contramão disso, os gaúchos promovem, desde 2015, a torcida mista nos Grenais. Isto é, além da presença de torcedores de ambos os times, existe um setor específico dos estádios onde torcedores das duas equipes podem frequentar. O sucesso foi tão grande que o número de cadeiras destinado a convivência entre as torcidas só cresce.

Os defensores da torcida única argumentam que em apenas um ano, os embates entre as facções rivais caíram 75% e o público subiu de 290 para 361 mil. Os números animadores parecem convencer as autoridades de que a solução para o problema foi encontrado.

Entretanto, no começo de março, o fundador da maior organizada palmeirense foi morto com 22 tiros na capital paulista. Isso comprova, mais uma vez, que o buraco é mais embaixo do que parece...

A violência é um problema que vai muito além das quatro linhas e ao contrário do que imaginam, ela não tem relação com o futebol; o esporte somente reproduz a sociedade em que ele está inserido. A Segurança Pública no Brasil é deficiente e além disso, as agressões e mortes são uma complicação educacional e social acima de tudo, já que a maioria desses assassinatos estão ligados ao ódio à diferença, algo que acontece em outros setores da sociedade da mesma maneira.

Mauricio Murad, um dos principais conhecedores da causa no país, afirma que por volta de 90% dos conflitos são realizados a, no mínimo, 3 quilômetros de distância dos estádios. O sociólogo também diz que por volta de 6% dos membros de torcidas organizadas são violentos.Considerando esses dados, é possível notar que o problema não são as torcidas em si, já que a sua maior parte representa as classes populares, defensoras da festa pacífica nas arquibancadas com bandeiras, sinalizadores e instrumentos.

Outros países, muito mais desenvolvidos que o nosso, também passaram por complicações semelhantes e conseguiram amenizar todos elas. A Inglaterra, por exemplo, enfrentou durante o final do século passado, os chamados "Hooligans". A crueldade era tanta que até a primeira-ministra, Margareth Thatcher, teve que intervir com punições mais severas aos agressores, o que afastou os criminosos dos gramados e foi fundamental para o desenvolvimento da Premier League, um dos maiores campeonatos da atualidade que tantos de nós adoramos acompanhar.


Não se pode punir a maioria pelos atos de uma minoria. A ação da Secretaria pode até ter reduzido o imbróglio, mas a selvageria continua acontecendo e fazendo suas vítimas enquanto o espetáculo e seus verdadeiros amantes são prejudicados.

Por Matheus J. de Moura @MatheuSClubismo | Sem Clubismo