A influência do regime militar nos ídolos do futebol mineiro
Após 55 anos do Golpe de 64 vamos relembrar a influência do regime militar nos ídolos do futebol mineiro.
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Foto: Arquivo EM, desconhecemos o contato da fonte. |
O dia 31 de março de 1964 marcou o Brasil pelos eventos que culminariam no início do regime militar, que teria seu fim no ano de 1985 com a eleição do mineiro Tancredo Neves para a presidência. Ao longo de 21 anos de governo militar, o futebol se tornou uma das plataformas utilizadas como propaganda para a ditadura, tendo em vista a imagem de superioridade passada pela sempre forte Seleção Brasileira ao resto do mundo. Durante o período da ditadura, Atlético e Cruzeiro viram alguns de seus maiores craques escreverem seus nomes na história dos clubes.
Tostão, destaque da Seleção Brasileira no tricampeonato mundial em 1970, foi um dos maiores craques que já passaram por Minas Gerais, vestindo a camisa do Cruzeiro. O que muitos não sabem é que o ídolo celeste correu risco de ser cortado da Seleção às vésperas do mundial do México por causa de uma polêmica entrevista ao jornal de oposição Pasquim. Na entrevista, Tostão se posicionou a favor dos direitos humanos e criticou a falta de liberdade individual durante a ditadura, assuntos considerados delicados na época. A entrevista foi publicada semanas antes da estreia do Brasil na Copa do Mundo, e Tostão recebeu uma ligação anônima ameaçando seu corte da Seleção Brasileira caso continuasse a conceder entrevistas daquele tipo.
A Copa de 70 foi palco de muitas histórias com envolvimento direto da política no futebol. Dirceu Lopes, terceiro maior em jogos e segundo maior artilheiro da história do Cruzeiro, teve sua carreira marcada por uma dessas histórias. Dirceu foi um dos maiores responsáveis pela classificação do Brasil para a Copa do México, sendo titular absoluto no time comandado pelo técnico João Saldanha. Saldanha, militante político de esquerda, bateu de frente com o então presidente Médici e acabou deixando o cargo. Nas convocações seguintes, Dirceu Lopes havia sido deixado de lado pelo técnico Zagallo.
Médici também teve influência direta na convocação de alguns jogadores para a seleção: entre eles estava Dario, o Dadá Maravilha, grande artilheiro do Atlético. Sua convocação havia sido pedida pelo presidente com apoio de João Havelange, então presidente da CBD, mas vetada por Saldanha. Com a chegada de Zagallo, Dadá foi convocado e se sagrou campeão da Copa de 1970 mesmo sem entrar em campo.
Não se pode falar do Atlético sem citar Reinaldo, o maior artilheiro da história do clube com 255 gols. O Rei não era conhecido apenas por seu imenso faro de gol, sendo também um grande opositor do regime em exercício. Seus gols eram comemorados levantando um dos braços com os punhos cerrados em forma de protesto e resistência, o que rendeu problemas para o craque em sua passagem pela seleção brasileira.
Com as grandes atuações pelo Atlético, Reinaldo foi convocado para disputar a Copa do Mundo em 1978, na Argentina. Seu gesto já chamava a atenção de quem estava no poder, o que rendeu a Reinaldo uma advertência para que não o repetisse. A advertência não adiantou: na Argentina, que também vivia em um regime ditatorial, o Rei comemorou seus gols erguendo o punho, sendo colocado no banco de reservas nas partidas restantes. Após a Copa da Argentina, na qual a Seleção terminou em terceiro lugar, Reinaldo retornou para a seleção apenas em amistosos e alguns jogos das eliminatórias.
*O texto teve como inspiração o especial "Ditadura e Futebol Mineiro", publicado pelo Superesportes MG no dia 31/03/19