O grito do brasileiro está rouco e entalado

A realidade da relação do torcedor com a seleção que já foi sua paixão - e que ele espera que volte a ser

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
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Brasil três, República Tcheca um. Visto de longe,  o resultado do último amistoso da seleção canarinho esconde a realidade em que se encontra o futebol brasileiro. Acostumado a ver grandes apresentações e viver paixões intensas, o torcedor brasileiro não tem encontrado brilho na seleção, mas não por falta de estrelas.

O último futebol jogado pela seleção Brasileira que encantou o seu torcedor se acabou em meados de 2006, ano em que havia esperanças reais pelo hexa. Após a derrota para a França no primeiro de julho daquele ano, a relação com o torcedor não foi mais a mesma, afinal, já se sabia que seria o fim de uma era vitoriosa. No ano seguinte, em 2007, a conquista da Copa América viria a ser a última alegria real que o torcedor brasileiro pôde, de fato, sentir com um restinho da intensa paixão que lhe sobrou. Com um time misto entre veteranos e novatos, desacreditado e considerado azarão, o Brasil chegou na final e derrotou a favorita Argentina por generosos três a zero, com gols de Júlio Baptista, Ayala (contra) e Dani Alves.

Dizer que o Brasil deixou de produzir grandes jogadores e que os elencos das seleções que vieram desde lá são fracos seria uma grande injustiça. Após 2007, tivemos inúmeras “revelações” de jogadores que hoje são de qualidade e carreira indiscutíveis, como Dani Alves - que aos 23 anos participou daquele grupo campeão da Copa América -, Thiago Silva, Casemiro, Phillipe Coutinho, Roberto Firmino e, é claro, Neymar, o maior nome da seleção brasileira nos últimos anos. Porém, apesar de sempre ter tido um grupo recheado de jogadores bons, que em grande parte atuam nas maiores ligas da Europa, há tempos não se vê um protagonista, um jogador que distoa, decide e têm feitos com a camisa amarela e verde como os de Rivaldo, Ronaldinho ou Romário, exemplos mais recentes. Neymar é craque e tem talento, mas, até hoje parece que não conseguiu mostrar a que veio, sendo pouco decisivo quando a seleção precisou.

Que fique claro que a apatia do Brasil não é exclusivamente culpa de Neymar, então não o execrem. Junto a ele existem outros dez jogadores - e tantos outros mais - que nos últimos anos jogaram pela seleção brasileira, mas não para o Brasil, não para o país. Talvez falte um pouco mais de vontade e orgulho de jogar pela seleção. Talvez falte um pouco daquela fantasia que quase todo brasileiro tem quando criança de ser jogador de futebol e vestir a camisa canarinho. A acomodação está nos pegando, precisamos sair da zona de conforto e “reinventar” nosso futebol. Não criar novas técnicas e estilos de jogo, mas recuperar a essência do futebol arte e o respeito que sempre tivemos, e agora, aos poucos estamos perdendo.

Nos falta mais sentimento, gingado. Nos faltam gols de falta - como Galvão tanto faz questão de lembrar nos fracos amistosos que a seleção tem feito. Nos falta, talvez, um camisa 9 daqueles como foram Leônidas da Silva, Ronaldo e Coutinho. Nos falta mudar, e se depender da torcida, isso vai acontecer.

A Copa América deste ano se aproxima, e além de tudo, jogamos em casa com o apoio daqueles que, como eu, assistem os jogos de casa ou do estádio, não entram em campo, mas ainda assim se referem à seleção brasileira em primeira pessoa, como “nós”, como povo, como se cada um tivesse sua contribuição a dar. O Brasil precisa retomar a nação que já foi, no esporte, na cultura, na política e na sociedade. Que o brasileiro, em meio a tantos problemas, tenha novamente aquela alegria antiga de “ver jogo da seleção”, mesmo quando amistoso. Com pipoca. Com refri. Com a família. O Brasil não tem a obrigação de ganhar a Copa América, mas, precisa.