Por que a solução é demitir o treinador?

Dorival não é mais o comandante do Santos e gera debate sobre a pressão de ser treinador de futebol no Brasil.



O Santos anunciou a demissão de Dorival Júnior no último final de semana. A decisão foi tomada em uma reunião de emergência realizada na tarde domingo, ao mesmo tempo em que os rivais Palmeiras e São Paulo jogavam suas respectivas partidas pelo Campeonato Brasileiro. Tal atitude já demonstra um certo sentimento de estranhamento: será que o anúncio foi planejado para o horário para ser "ofuscado" pela mídia?

Se essa foi a intenção real do presidente Modesto Roma, isso nunca saberemos. No entanto, é possível analisar a causa da demissão e o que ela se assemelha com todas as outras presentes em nosso futebol. A mais comum é a pressão por resultados. Quando qualquer equipe atravessa uma fase ruim e um jejum de vitórias, a qualidade do futebol apresentado é sempre deixada de lado e só são analisados os placares recentes.

A urgência de vitórias também é muito presente no Brasil. Quando um treinador assume alguma equipe, ele já sabe que tem "prazo de validade" e que, mesmo com um calendário apertado e consequentemente, um time cansado e com pouco tempo para treinar, ele é obrigado a tornar seu conjunto de jogadores em um time forte logo na primeira partida.

Essa falta de paciência é cultural do povo brasileiro, mas também já se tornou sistemática e inerente ao futebol. Já se sabe que a solução mais rápida para qualquer problema dentro do clube é a troca de comando técnico. Essa mentalidade ligada ao pensamento retrógrado da maioria dos que compõem as diretorias dos grandes clubes brasileiros e a pressão da imprensa esportiva e da própria torcida só diminuem ainda mais o tempo de trabalho de um treinador.

As trocas, sobretudo durante a temporada, podem prejudicar o restante do ano. Equipes como Palmeiras, Vasco, Bahia, Internacional e Coritiba já trocaram de técnico em 2017 e todo o seu planejamento durante a pré-temporada, incluindo modelo de jogo e contratações é deixada de lado em 6 meses do ano.

Dorival era o mais antigo no cargo no Brasil - treinava o Santos desde 2015. Mesmo assim, a pressão pelas vitórias fez dele mais uma vítima. Apesar de classificado na Libertadores e Copa do Brasil, o mau desempenho no início do Brasileirão e as derrotas em clássicos já foram suficientes para o derrubar. Infelizmente, ele não foi o primeiro e nem será o último. Nos resta torcer por mais profissionalismo nas diretorias esportivas do país.